terça-feira, 3 de agosto de 2010

Direita, esquerda, direita, esquerda, direita, esquerda...volver!!!

Há algo estranho na forma como dividimos o mundo. Esquerda. Direita. Palavras que flutuam no ar, que tentamos segurar como se fossem pedras, mas se desfazem entre os dedos. Tento olhar, tento entender, e tudo parece escapar, como se a realidade fosse maior do que nossas pequenas classificações. Será que alguém realmente acredita que estas linhas que traçamos dizem algo sobre a vida?

Lembro-me da Revolução Industrial, séculos atrás, como se fosse uma lembrança emprestada. O carvão, as máquinas, as cidades crescendo em pressa e fumaça, a terra sendo esquecida, desfeita sob o peso da engrenagem. Surgiram nomes e conceitos, surgiram classes. O operário. O burguês. Marx. Smith. Palavras grandes que deveriam explicar o mundo, mas que, na verdade, só criaram mais separações, mais compartimentos para nos perdermos.

E me pergunto: será que a vida cabe em compartimentos? Será que se pode reduzir tudo a luta de classes, a leis de mercado, a bandeiras políticas? Não. A vida escapa. A vida se esconde entre os intervalos, nos silêncios, nos gestos que ninguém percebe. E talvez o que chamamos de desigualdade não seja uma linha entre opostos, mas um espaço profundo que nos atravessa e nos torna frágeis, invisíveis, humanos.

Hoje o mundo mudou novamente. O proletário se diluiu, o burguês se metamorfoseou, e aquelas separações que pareciam sólidas se tornaram sombra. O que existe agora é uma confusão silenciosa, feita de corrupção, de distâncias, de vidas fragmentadas. E ainda assim, tentamos encaixar tudo em palavras: esquerda, direita, progresso, atraso. Mas as palavras não seguram o mundo. Elas só indicam o vazio que deixamos entre nós e ele.

Não se trata de escolher um lado. Trata-se de perceber que o mundo não cabe em caixas. Que a vida é contínua, apesar de nossas tentativas desesperadas de separá-la. E nesse contínuo, há um lugar para olhar, para sentir, para compreender que estamos todos conectados, mesmo quando nos dizem que estamos divididos.

Talvez seja isso. Talvez, se soltarmos as palavras, se deixarmos de nomear, possamos finalmente ver. Ver que a vida acontece além das linhas que desenhamos, que o tempo flui sem se importar com nossos mapas. E que, no fundo, toda divisão é apenas uma ilusão, uma necessidade que inventamos para nos orientar, enquanto caminhamos pelo impossível.

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