Quando éramos crianças, o mundo cabia na palma da mão. Brincávamos de ser grandes. Passávamos batom, vestíamos ternos de papel, comprávamos jornais que não sabíamos ler, apenas para parecer. O tempo parecia flutuar, paciente, invisível.
Depois veio a adolescência. E com ela a pressa. Falávamos alto para o mundo ouvir. Amávamos como se o amor fosse urgente. Cada livro era uma descoberta. Cada beijo, uma revelação. Achávamos que a vida adulta seria chegada. E, quando chegou, percebemos que o bom estava em nós, antes de sabermos o que era bom.
Tudo se tornou problema. Até respirar parecia responsabilidade. E as cobranças — ah, elas nunca foram embora. Só mudaram de voz. Comparações surgiam como sombras: o filho do vizinho, o irmão, o amigo. Queriam ajudar, talvez. Atrapalhavam, talvez. E quando atrapalhavam, talvez ajudassem.
O tempo não espera. Não pede licença. Às vezes corre, às vezes se arrasta. E nós, no meio, tentando segurar o que escapa. Hoje olho e não concordo. Mas talvez seja só hoje. Espero que ele não me prenda, que não me faça repetir dias sem fim.
Ser livre é esquecer o relógio. É não contar os dias. É existir sem medi-los. Felizes são aqueles que não se prendem às horas, que escutam o ritmo que vem de dentro e seguem-no, mesmo sem saber.
O tempo passa. Silencioso. Invisível. E nós, passageiros, respiramos dentro dele. Algumas vezes, só algumas, conseguimos estar inteiros, inteiros no instante, inteiros no tempo que passa sem nome.
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