Ouço muito essa frase na minha vida e, aos poucos, percebo que ela se tornou minha. Talvez seja sinal de que caminho mais no tempo e no espaço, mais atento aos ecos do que fui e ao perfume do que ainda posso ser. Hoje, a lembrança chegou através de uma música. Uma daquelas que, quando toca, parece abrir portas para a infância, para a adolescência, para dias que eu julgava perdidos. A canção é de Etta James — magnífica, única, impossível de repetir. “I’d Rather Go Blind”.
A música foi escrita por Ellington Jordan e Billy Foster, gravada pela primeira vez por Etta, em 1969. Hoje, outras vozes tentam interpretá-la, mas sinto uma pontada de dor quando alguém acredita que é novidade ou que pertence a um artista da moda. É como se o tempo esquecesse a intérprete original, e isso me entristece. Felizmente, ainda existe espaço para reverência: tenho meu blog, minha pequena torre de memória, onde o mérito de Etta James é celebrado, como sempre será.
A tradução da letra deixo para quem quiser se perder nela. É uma canção que nos faz lembrar, sofrer, suspirar por alguém que a vida não nos permitiu ter ou, quem sabe, se apaixonar novamente, apenas pelo som de uma voz que toca o coração com simplicidade e majestade. Difícil resistir ao timbre, à emoção crua, à intensidade com que Etta canta. A sorte é que temos o YouTube, onde podemos buscá-la, ouvi-la, vê-la, sentir a grandeza de sua presença.
Para mim, o vídeo mais inesquecível é aquele em que ela divide o palco com o estupendo Dr. John, em um show comandado por B.B. King e outros gigantes — Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, Phil Collins. A canção é linda; o espetáculo, magnífico. Palavras parecem pequenas diante de tanta arte. Só resta admirar, deixar-se levar, reconhecer que, em momentos assim, o tempo se curva e nos permite tocar a eternidade através de uma voz.
E então digo, com toda a alegria e reverência que a vida comporta: viva, eterna Etta James!
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