domingo, 29 de agosto de 2010

Viva, Eterna Etta James

Ouço muito essa frase na minha vida e, aos poucos, percebo que ela se tornou minha. Talvez seja sinal de que caminho mais no tempo e no espaço, mais atento aos ecos do que fui e ao perfume do que ainda posso ser. Hoje, a lembrança chegou através de uma música. Uma daquelas que, quando toca, parece abrir portas para a infância, para a adolescência, para dias que eu julgava perdidos. A canção é de Etta James — magnífica, única, impossível de repetir. “I’d Rather Go Blind”.

A música foi escrita por Ellington Jordan e Billy Foster, gravada pela primeira vez por Etta, em 1969. Hoje, outras vozes tentam interpretá-la, mas sinto uma pontada de dor quando alguém acredita que é novidade ou que pertence a um artista da moda. É como se o tempo esquecesse a intérprete original, e isso me entristece. Felizmente, ainda existe espaço para reverência: tenho meu blog, minha pequena torre de memória, onde o mérito de Etta James é celebrado, como sempre será.

A tradução da letra deixo para quem quiser se perder nela. É uma canção que nos faz lembrar, sofrer, suspirar por alguém que a vida não nos permitiu ter ou, quem sabe, se apaixonar novamente, apenas pelo som de uma voz que toca o coração com simplicidade e majestade. Difícil resistir ao timbre, à emoção crua, à intensidade com que Etta canta. A sorte é que temos o YouTube, onde podemos buscá-la, ouvi-la, vê-la, sentir a grandeza de sua presença.

Para mim, o vídeo mais inesquecível é aquele em que ela divide o palco com o estupendo Dr. John, em um show comandado por B.B. King e outros gigantes — Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, Phil Collins. A canção é linda; o espetáculo, magnífico. Palavras parecem pequenas diante de tanta arte. Só resta admirar, deixar-se levar, reconhecer que, em momentos assim, o tempo se curva e nos permite tocar a eternidade através de uma voz.

E então digo, com toda a alegria e reverência que a vida comporta: viva, eterna Etta James!

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