domingo, 5 de setembro de 2010

Papa Giovanni XXIII e o destino da Paz Mundial

Pessoas boas permanecem na memória. Creio nisso com todo o coração, e espero que mais pessoas sigam esse caminho. João XXIII era assim — bom. Tão bom que ficou conhecido como o “Papa Bom”. Assumiu o papado após o período conturbado de Pio XII, um tempo marcado por guerras, silêncios e escolhas difíceis. Não importa aqui discutir se ajudou ou atrapalhou os judeus — importa que sua bondade deixou uma marca.

A Igreja sempre me pareceu um território de mistérios. Cresci estudando seus caminhos tortuosos, refletindo sobre episódios como a Inquisição e sobre as sombras do passado, como a juventude de Bento XVI sob o regime nazista. Ainda assim, o pontificado de João XXIII me trouxe algo diferente. Mesmo doente, sustentou a visão de um novo Concílio, ousou abrir o diálogo entre as religiões e reformou ritos antigos.

Ele aboliu o latim obrigatório da missa, tornando o sermão compreensível a todos. Mas penso, com um certo pesar, que talvez tenha perdido um elo que unia os fiéis: a língua antiga, compartilhada, que carregava séculos de história e devoção. No judaísmo, oramos em hebraico; no islamismo, em árabe. Mesmo sem compreender cada palavra, sentimos a continuidade, a raiz da tradição. Essas línguas antigas nos conectam, nos lembram de quem fomos e quem somos.

Não sei se a mudança foi um erro ou um acerto completo. Mas sei que João XXIII acertou ao abrir as portas ao diálogo. Ao dizer que as religiões deveriam conversar, buscar a paz, ensinar a humanidade a se olhar com respeito, ele tocou o essencial.

Sonho com um mundo em que nossas diferenças não fragmentem a fé, mas nos fortaleçam. Um mundo em que cristãos, judeus e muçulmanos possam dialogar sem divisões internas, em que cada tradição respeite sua essência sem rivalidades. E um mundo em que todos os outros — ciganos, budistas, hinduístas, todos os filhos e filhas da Terra — também encontrem seu espaço de dignidade.

A paz absoluta talvez exista apenas nos textos de Platão, ou nas palavras de Yeshua ben Yossef. Mas podemos cultivá-la na vida concreta: respeitando o outro, reconhecendo sua existência, protegendo sua voz. Só assim o ciclo da bondade e da justiça continua, intacto e eterno.

Salve, João XXIII, in memoriam.

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