Volto a folhear o livro de Rabi Yehoshiahu Pinto, traduzido com sensibilidade por Paulinho Rosenbaum. O título, Pérolas, já anuncia a preciosidade contida em cada página. Não se trata de um texto apenas para ler, mas de um convite para aprender, refletir e, sobretudo, despertar a alma. Cada ensinamento ressoa como um sussurro antigo, lembrando-me, por vezes, das palavras de Rabbi Nachman de Breslov e de outros mestres que pontuam minhas leituras, quando o tempo, generoso ou escasso, permite-me esses instantes de pausa.
Minha mãe tinha o costume de dizer: “ande com pessoas melhores do que você”. Na época, parecia apenas um conselho prático. Hoje, percebo sua profundidade. Andar com aqueles que nos superam em sabedoria, talento ou caráter é, em essência, um convite ao crescimento. Mas também carrega um risco silencioso: a comparação constante. Quando nos colocamos lado a lado de alguém mais capaz, é fácil sentir-se inferior, e muitas vezes essa sensação desperta uma competição interna que nos desgasta. É um paradoxo sutil da vida — buscamos inspiração, mas, ao mesmo tempo, podemos nos perder na sombra do outro.
O que Rabi Yehoshiahu Pinto propõe, com clareza serena, é semelhante, mas mais refinado: ele nos convida a procurar a companhia de estudiosos, daqueles que cultivam a sabedoria, não para medir forças, mas para absorver ensinamentos. Ele lembra que o aprendizado profundo não é imediato; é o tempo, paciente e constante, que nos conduz a uma conduta mais equilibrada, a uma vida mais consciente. A sabedoria, afinal, não se impõe, ela se conquista. E se nos dispusermos a escutá-la, mesmo lentamente, descobrimos caminhos que antes nos escapavam.
Essa reflexão não se limita ao estudo ou à espiritualidade. Serve para qualquer esforço humano. Não se constrói uma fortuna, uma carreira sólida ou uma realização pessoal significativa em um único dia. Tudo exige dedicação, paciência e constância. Pequeno esforço gera pequena recompensa; grande esforço, grande recompensa. O imediatismo da vida moderna muitas vezes nos ilude, fazendo-nos acreditar que tudo pode ser rápido, que resultados devem aparecer instantaneamente. Mas é justamente nesse lapso entre a expectativa e a realidade que o verdadeiro aprendizado se revela.
Aprender a valorizar o esforço prolongado, o caminho longo e silencioso, é perceber que cada pequena vitória carrega consigo o peso do trabalho realizado, das horas dedicadas, das tentativas e erros que moldam o caráter. É reconhecer que o sucesso, quando finalmente alcançado, é mais saboroso não apenas pelo resultado em si, mas por tudo que foi necessário para conquistá-lo.
Voltando às palavras de minha mãe e de Rabi Yehoshiahu, percebo que há uma diferença sutil, porém decisiva. Minha mãe falava em andar com “pessoas melhores do que eu”, um conselho que pode, inadvertidamente, estimular comparações nocivas. Rabi Yehoshiahu sugere andar com “estudiosos”, ou melhor, com aqueles que cultivam sabedoria. O enfoque não está na comparação, mas no aprendizado. Não se trata de medir forças ou capacidades, mas de abrir espaço para que o espírito absorva aquilo que ele ainda não conhece. É uma sutileza importante: a diferença entre competição e aprendizado, entre ansiedade e paciência, entre olhar para fora e olhar para dentro.
Outro ponto que merece atenção é a valorização das nuances e detalhes. A vida está repleta de sutilezas que muitas vezes passam despercebidas. Uma palavra, um gesto, uma escolha aparentemente insignificante pode alterar o curso de nossos caminhos. Estar atento a esses detalhes, cultivando a percepção e a sensibilidade, é parte essencial do que chamamos de sucesso. Não apenas o sucesso material, mas o sucesso humano, aquele que se traduz em paz de espírito, em integridade e em harmonia com o mundo ao redor.
E, por fim, há um convite implícito no livro de Rabi Yehoshiahu, que ecoa também na sabedoria de minha mãe: cercar-se de pessoas sábias, aprender com elas, absorver suas experiências e refletir sobre suas palavras. Mas fazer isso sem pressa, sem competição, sem ansiedade. Com atenção plena às nuances, aos detalhes, àquilo que o tempo revela e a paciência nos permite compreender. Pois a vida, em sua complexidade, não se resume a uma série de metas rápidas, mas se constrói nos intervalos silenciosos, nos pequenos gestos, nos aprendizados discretos que, pouco a pouco, transformam o caráter e abrem caminho para a verdadeira realização.
Esta é a mensagem que deixo hoje: busque a companhia dos sábios, valorize o esforço constante, perceba os detalhes e respeite o tempo do aprendizado. Nessa sintonia, encontraremos não apenas sucesso, mas também serenidade, compreensão e a delicada, porém profunda, sensação de estar caminhando na direção certa.
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