terça-feira, 21 de setembro de 2010

"De grão em grão a galinha enche o papo"

Lendo mais algumas pérolas do Rabi Yehoshiahu Pinto, cuidadosamente traduzidas por Paulinho Rosenbaum, deparei-me novamente com um ensinamento que, à primeira vista, parece simples, quase trivial. Muitas vezes ouvimos expressões como “de grão em grão a galinha enche o papo” e as descartamos como clichês, frases gastas de sabedoria popular que repetimos sem perceber. No entanto, se nos detivermos por um instante e prestarmos atenção, veremos que, por trás da simplicidade, há uma profundidade surpreendente. Como em toda lição verdadeira, a grandeza está na sutileza.

O Rabi nos lembra, ainda que de forma indireta, que a paciência é uma ferramenta essencial para qualquer aspecto da vida. Paciência, aliada ao tempo, nos oferece respostas que a pressa jamais revelaria. É a acumulação constante, silenciosa e discreta de pequenos esforços, de pequenas conquistas, que nos conduz a grandes resultados. O conhecimento, por exemplo, não se absorve de imediato; cada fragmento de aprendizagem que incorporamos, por menor que pareça, contribui para um acúmulo que, ao longo do tempo, transforma profundamente nossa compreensão do mundo.

Essa lógica se aplica a tudo na vida. Nada que valha a pena é construído da noite para o dia. Um planejamento de longo prazo, sólido e bem pensado, é o que sustenta as verdadeiras políticas, as carreiras duradouras, os negócios que prosperam e, até mesmo, as relações humanas que florescem. Políticas imediatistas, por outro lado, muitas vezes apenas tapam buracos, e podem até agravar os problemas que pretendem resolver. Olhemos, por exemplo, para o Japão: um país cuja paciência se reflete na excelência de suas obras, na persistência de seus projetos e no respeito quase ritual pelo tempo necessário para que as coisas se consolidem. Cada resultado ali é a soma de pequenos esforços, repetidos com precisão e disciplina.

Por isso, volto a repetir a frase aparentemente simples: “de grão em grão a galinha enche o papo”. É um convite à paciência, à perseverança, à confiança no tempo e no processo. Tudo que almejamos — aprovação em um concurso, o sucesso de um relacionamento, a construção de uma família, a compra de uma casa ou a concretização de um negócio — depende de acumularmos, passo a passo, nossos “grãos”. Cada ação cotidiana, por menor que pareça, é um tijolo na construção de algo maior.

E aqui surge outro ponto que talvez passe despercebido à primeira vista: o significado espiritual dessa metáfora. O ensinamento não se limita à necessidade prática de paciência; ele nos lembra que a vida da alma também segue um processo semelhante. Assim como a galinha precisa de grãos, a alma precisa de alimento espiritual, de experiências, aprendizados e reflexões, que se acumulam silenciosamente até que nos sintamos completos. A paciência e o tempo não apenas nos ensinam a conquistar o mundo exterior, mas a nutrir nosso mundo interior.

Portanto, a lição é dupla: cultivar a perseverança no plano material e cultivar o alimento da alma no plano espiritual. Com atenção aos pequenos passos, com paciência para respeitar o tempo de cada processo, veremos que pequenos desejos se transformam em grandes sonhos, e que a vida, quando vivida com constância e cuidado, revela frutos que a pressa jamais alcançaria.

De grão em grão, aprendemos que nada se perde, tudo se transforma. Cada esforço conta, cada momento importa, e cada passo dado com paciência nos aproxima daquilo que realmente almejamos — seja no mundo exterior, seja no universo interior que carrega nossas verdadeiras riquezas.

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