segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Diferenças étnicas no Oriente Médio

Muito se fala, mas poucos sabem a real diferença das etnias no Oriente Médio. O assunto (Oriente Médio) é tema de diversas discussões em ambientes acadêmicos, debates políticos, mídia e até mesmo em um bate-papo informal com amigos no bar. Entretanto, muitas pessoas desconhecem a diferença entre um árabe e um israelense ou entre um muçulmano e um árabe, ou ainda entre um judeu e um muçulmano.

A grande verdade é que a riqueza de culturas e a história milenar daquela região é um tema muito explorado, porém pouco esclarecido com relação aos povos e a história em si do Oriente Médio. A mídia foca sua atenção nos conflitos e nos distúrbios dos Governos locais, esquecendo a raiz, a origem e a cultura da região. Sendo assim, este breve artigo visa apresentar as diferenças e os traços culturais das etnias mais marcantes do Oriente Médio e dar um norte àqueles que pretendem entender o motivo dos atuais impasses em diferentes países da região.

Primeiramente, utilizarei o livro bíblico de Gênesis como fonte histórica e ponto inicial para uma possível diferenciação dos povos daquela região. Como é do conhecimento de muitos, o livro de Gênesis narra a origem de dois povos: o árabe e o judeu. Sabe-se que Abraão era casado com Sara e que a mesma era estéril. Sara tinha o desejo muito grande de ter um filho e como não podia pediu que a criada o tivesse com Abraão.

Assim, nasce Ismael. Mas Agar, a criada, menosprezava Sara, pois o filho era dela e de Abrão, não de Sara. Deus envia Agar e Ismael para o deserto, com a promessa de que ele será pai de uma grande nação, com vistas a distanciar Agar de Sara e evitar possíveis complicações. De Ismael nasce o islamismo. Após isso, Deus promete a Sara um filho de Abraão, cujo nome é Isaac, surge, assim, o judaísmo.

Com esse breve esclarecimento, não devemos confundir, então, o povo árabe com a religião islâmica (muçulmana). O povo árabe surge com Ismael, já a religião islâmica, o islamismo, surge com o profeta Mohammed, tempo depois. O mesmo podemos anuir com relação ao povo judeu, pois o povo judeu surge com Isaac, mas somente com Moisés é que teremos uma codificação e traços marcantes do judaísmo.

No entanto, para ser mais preciso e utilizar de dados mais apurados, pode-se dizer que o povo árabe é um povo heterogêneo, originário da península arábica constituída por regiões desérticas. O povo árabe pode ser identificado por motivos políticos (se ele vive em um país membro da Liga Árabe), por motivos lingüísticos (sua língua materna é árabe) e por motivos genealógicos (ascendência até os habitantes originários da península arábica). Entretanto, nem sempre os fatores mencionados acima definem um árabe por completo, segundo Habib Hassan Touma (1996, p.xviii), "A essência da cultura árabe deve envolver a língua árabe, o islã, a tradição e os costumes”. Ou seja, árabe, no sentido moderno da palavra, “é alguém que é cidadão de um estado árabe, conhece a língua árabe e possui um conhecimento básico da tradição árabe, isto é, dos usos, costumes e sistemas políticos e sociais da cultura." (definição da Liga Árabe).

Pode-se resumir, assim, que os árabes são um povo semita que tem sua ascendência de Ismael, um dos filhos do antigo patriarca Abraão. O povo árabe pode ser, ainda, dividido em duas outras segmentações: os xiitas e os sunitas. Os xiitas são o segundo maior ramo de crentes do Islã, constituindo 16% do total dos muçulmanos. Os xiitas são partidários de Ali, casado com a filha do Profeta Mohammed, Fátima. Os xiitas não aceitam as direções dos sunitas, uma vez que somente descendentes do profeta são verdadeiros Imãs (Guias do sagrado Corão e Sunna). Receberam o conhecimento de forma secreta por Deus. São mais religiosos e mais ortodoxos. Já os sunitas formam o maior ramo do Islã, ao qual no ano de 2006 pertenciam 84% do total dos muçulmanos. Os sunitas são partidários dos califas abássidas, descendentes de All Abbas, tio do Profeta. São muçulmanos mais moderados, menos religiosos.

Por outro lado, como já vimos, temos a religião judaica, o judaísmo, que também surge com Abraão. Após o nascimento de Ismael, Deus ordenou que Agar e Ismael fossem para o deserto para ser pai de uma grande nação. Após este episódio, nasce Isaac, filho de Abraão com Sara, e, a partir deste momento, os caminhos das duas religiões começam a ser definidos.
Pode-se dizer que com Isaac surge o judaísmo, apesar das escrituras judaicas narrarem a história da humanidade desde Adão e Eva, perpassando por Noé e Abraão. No entanto, não podemos confundir o judaísmo com a nacionalidade israelense. Como já mencionado, judaísmo é a religião, israelense é a nacionalidade. Assim, nem todo israelense é judeu, da mesma forma que nem todo judeu é israelense.
A tradição judaica defende, em um passado mais recente, que a origem se dá com a libertação dos filhos de Israel da terra do Egito pelas mãos de Moisés. Com a fundamentação e solidificação da doutrina mosaica, uma facção dos antigos hebreus passou a ser conhecida como "Filhos de Israel" (Bnei Israel). É deste evento que surge a noção de nação, fundamentada nos preceitos tribais e na crença monoteísta.

Com relação à terminologia israelense, pode-se definir como todo o cidadão do Estado de Israel, que foi criado em 1948. Ou seja, israelense é a nacionalidade dos nascidos em Israel. Existem muçulmanos israelenses, judeus israelenses, católicos israelenses, dentre outros. Da mesma forma que existem judeus brasileiros, judeus americanos, judeus etíopes, e muitos outros. Podemos dizer, ainda, que existem muçulmanos brasileiros, muçulmanos argentinos, muçulmanos americanos.
Em suma, israelense é diferente de judeu e muçulmano é diferente de árabe. Por fim, devemos dedicar um espaço ao povo persa, que não é árabe, mas em sua maioria é muçulmano. Os persas habitaram a Península Arábica, território correspondente à atual República do Irã, na Ásia. Os persas existem como um pequeno povo de nação distinta desde a antigüidade.

Sem esgotar o assunto, ainda temos beduínos, berberes, turcos, gregos e outras etnias na região para estudar, mas deixarei para abordar com maior profundidade em um outro post ou em um outro blog, que está em vias de criação.

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