Da Lifnei Mi Atah Omed
Há frases que carregam consigo um peso silencioso, uma profundidade que só se revela quando nos encontramos diante delas, em silêncio e atenção plena. Uma delas, que sempre guardo comigo, é “Da lifnei mi atah omed”. Lembro-me de uma visita a uma sinagoga em Buenos Aires, onde essa frase estava grafada em destaque, sobre o armário que guarda o livro sagrado dos judeus, a Torah. Foi um encontro que me marcou profundamente.
A guia falava sobre a construção, sobre a história e o funcionamento da sinagoga, mas era a frase em hebraico que parecia ressoar em cada canto do espaço. Senti algo que nunca havia sentido com tanta intensidade: um respeito misturado a um temor reverente. Um medo que não era paralisante, mas que me lembrava da responsabilidade de cada pensamento, de cada ação. Ali, naquele salão sagrado, parecia impossível pensar em maldade ou agir de forma leviana. Lembro-me de ter saído de costas do salão principal, com cuidado, para não dar literalmente as costas a D’us, como se sentisse Sua presença pairando naquele lugar.
Curiosamente, não tive a mesma experiência ao visitar igrejas nos domingos de missa. Vi crucifixos, imagens e vitrais, mas a sensação de reverência que senti naquela sinagoga foi única. Ali, olhando para o vitral no alto da cúpula, que parecia proteger e iluminar a frase, senti algo que ia além do intelecto: uma presença silenciosa, mas poderosa, que lembrava que somos sempre observados, sempre convidados a refletir sobre nossas escolhas.
O mais fascinante é que “Da lifnei mi atah omed” está presente em quase todas as sinagogas que já visitei. Porém, naquele dia, naquele espaço específico, senti o sentido da frase com uma clareza quase física. Era como se cada letra em hebraico estivesse viva, lembrando-me da importância de estar consciente, de agir com integridade, de lembrar que nossas atitudes têm consequências que transcendem o imediato.
Essa experiência me levou a uma reflexão mais ampla, além do contexto judaico. Independentemente da religião que seguimos, acredito que o sentimento de reverência, de respeito e de admiração por D’us ou pela Energia Criadora é universal. Todos nós, em algum nível, dirigimos nossos pensamentos a uma força maior, Protetora, a quem devemos tudo o que somos e temos. Talvez, no fundo, todas as tradições espirituais estejam nos convidando a reconhecer essa presença, a respeitá-la e a viver de acordo com ela, conscientes de que cada gesto, cada pensamento, tem peso e significado.
Da lifnei mi atah omed: diante de quem você está, lembre-se. Uma frase simples, mas de profundidade infinita. Um lembrete de que a vida se constrói não apenas em ações visíveis, mas também na consciência e no cuidado com a energia que emanamos e recebemos. E, quando nos permitimos sentir isso plenamente, a experiência deixa de ser apenas ritual ou costume: torna-se um momento de encontro íntimo, de reconhecimento daquilo que nos transcende e nos sustenta.