sábado, 28 de agosto de 2010

O Amor, a Compreensão e a Tolerância como atributos espirituais

Amor, Compreensão e Tolerância, três palavras que parecem, em sua essência, se completar e até mesmo chegar a significados muito próximos. A verdade é que as três virtudes acima são de um ser espiritualmente evoluído. Não é fácil encontrar as três características em uma única pessoa. Se pudermos encontrar uma pessoa com tais características, podemos dizer que é um “justo”, um Tsadik, no hebraico, isto é, humilde de corpo e alma.


Minha visão sobre o assunto, muito tosca e talvez tacanha, sem polimento e pouco conhecimento dos muitos mistérios que envolvem os níveis da alma, os conceitos espirituais, as questões relacionadas à árvore da vida, da Kabalá, e outros muitos aspectos que não são de meu conhecimento, só podem reafirmar a complexidade para mim em definir as virtudes acima como atributos espirituais. Por esta razão apresento um breve comentário do que pessoalmente acredito ser o Amor, a Compreensão e a Tolerância em um entendimento espiritual.

As três virtudes acima mencionadas me levam a pensar no casamento. Digo isso porque o casamento só existe e permanece se existe o real amor, a real compreensão e a real tolerância. Somente abrindo mão de nossas vontades conseguimos entender, amar e tolerar o outro, o próximo, a nossa alma gêmea. Assim, o casamento, além do material, do físico, do que de fato existe, perpassa a realidade e entra em um nível espiritual, onde duas almas se tornam uma, uma única alma que compartilha em um nível mais elevado o amor, a compreensão e a tolerância. Talvez este possa ser considerado um atributo espiritual para as três referidas virtudes.

Não obstante, não devemos entender o amor como sendo somente aquele relacionado à pessoa amada. A palavra amor, que por muito tempo tem recebido diversas definições, não se prende ao amor entre homem e mulher e sim de pai e filho, de amigo e amigo e o maior e mais especial de todos: o amor ao próximo. Este sim está intimamente ligado ao atributo espiritual. Amando uns aos outros não teríamos porque discutir, não teria porque ter desavenças na família, discórdia entre os amigos, discussões políticas, confrontos religiosos e, em um nível extremado, guerras e desigualdades. Viveríamos em um mundo que Platão chamou de “utopia” e que hoje é usado para falar de algo impensável e inimaginável, devido à dificuldade que nós temos em nos relacionar uns com os outros. Talvez seja a falta de amor ao próximo que impeça qualquer tentativa duradoura de paz no mundo (isto se partirmos para uma análise menos complexa e mais simplista da situação).

Sempre que se fala em espiritualidade, nos remetemos à alma, ao espírito e por isso, inevitavelmente, volto a falar dos níveis da alma, da elevação e do aperfeiçoamento de nossa alma, com vistas a atingir um estágio avançado, mais próximo de D’us. Por esta razão, praticando o amor (e aqui me refiro ao amor incondicional ao próximo) estamos elevando nossas almas às alturas e abrindo mão de qualquer materialidade, conquista ou disputa que possa existir no mundo físico.

No que diz respeito à Compreensão, não acredito que deva ser dissociado do Amor, assim como da Tolerância. Como já afirmei nas linhas acima, as três virtudes se completam e em seu sentido último convergem para o mesmo caminho. A compreensão, não diferente do amor, significa, mais uma vez, abrir mão de vontades, é simplesmente a atividade de ouvir e se preocupar (no bom sentido) com o próximo, é se importar em sua essência. Atualmente, importar-se com alguém parece ser uma ação estranha no nosso dia-a-dia, pois as vezes não temos tempo para nós mesmo (o que é um grande erro). Compreensão também está relacionada à Tsedaká, palavra hebraica que muitos traduzem erroneamente como caridade. Na verdade, Tsedaká significa justiça social e é aí que podemos espiritualmente atribuir o conceito de compreensão. Entender e procurar importar-se com a justiça social, seja da sua família, amigos, como do outro (do próximo). Quando falamos em justiça social, logo, em compreensão, não estamos falando em doação de dinheiro ou bens materiais. Claro, podemos também ajudar o próximo provendo utensílios ou elementos de sobrevivência básica necessários a qualquer um, mas em outra esfera, Tsedaká e a compreensão podem ser atingidas com trabalhos ou conhecimentos. Volto a dizer, é importar-se de verdade com “o vizinho”. Este talvez seja o atributo espiritual da Compreensão, a verdadeira “caridade” a justiça social, que não está, torno a mencionar, dissociada do amor.

Por fim falemos de tolerância. Também intimamente relacionado ao amor e à compreensão. Tolerância é diferente de suportar, tolerância não é simplesmente suportar a situação adversa, este é o sentido “não-espiritual” da palavra. Conhecer a tolerância em seu sentido espiritual é mais difícil e mais profundo entender, pois a palavra sempre nos remete a alguma situação adversa que devemos agüentar. Na verdade, a tolerância é respeitar as diferenças, é entender as dificuldades.

Acredito que esta seja a virtude mais difícil de todas de se por em prática – não que as outras sejam fáceis, mas me refiro à dificuldade que o ser humano tem de aceitar o que é diferente de sua realidade, costumes, normas, aparências físicas e outras coisas mais. O ser humano não se preocupa com a essência e sim com o que vê, exemplo disso é a famosa assertiva: “quem vê cara, não vê coração”. Como pré-julgamos antes de realmente conhecermos, não toleramos e, por isso, caímos no erro do preconceito, da injustiça e voltamos a falar de Tsedaká, de compreensão e de justiça social. Realmente, não conseguimos dissociar as três virtudes uma da outra, pois são pilares fundamentais de qualquer atitude que tenhamos na vida, independente de credo ou outra afinidade.

Esta é a grandeza do assunto, discutir três características, que aqui chamei de virtudes, que fisicamente são distintas, mas que em sua essência são indissociáveis e muito parecidas. Assim somos todos nós, fisicamente distintos, mas na essência muito parecidos. A busca por um amor ao próximo, pela compreensão e pela tolerância nos torna mais nobre, mais ricos e cheios de boas energias espiritualmente e é assim que vejo um grande “homem”, um justo, um Tsadik.

Cabalisticamente poderíamos ter uma explicação mais apurada das três virtudes, mas como não domino o tema, não me aventuro a dizer qualquer coisa. Entretanto, como empreguei o hebraico por duas vezes no texto, podemos verificar a ocorrência da letra Tsadi, na palavra Tsadik (justo) e em Tsedaká (justiça social). A letra Tsadi representa, no alfabeto hebraico, a fé dos corretos, e inicia várias outras palavras que nos remonta à explicações mais profundas e elevadas, que não saberia explicar neste momento. Sendo assim, fiquemos somente com outra palavra que, talvez, poderia ser a união das virtudes acima mencionadas, isto é, com amor, tolerância e compreensão, passamos à fé, na crença de que tudo é para o bem, para o melhor e que D’us não faz nada para piorar as coisas, voltamos ao conceito de esperança e percebemos que tudo está associado.

Imaginem, se respeitamos as diferenças (tolerância), se temos amor ao próximo (amor) e se procuramos fazer sempre a justiça social (compreensão), estaríamos, sem sombra de dúvida, no mundo “utópico” de Platão, elevaríamos nossas almas e estaríamos mais próximos da divindade em um mundo completamente superior. Esta é a verdadeira evolução espiritual para nos tornarmos seres melhores, diferentes fisicamente, mais iguais em essência.

6 comentários:

Alex disse...

Interessante... vc é adepto da SCA?

Roy Luria disse...

Por favor, me dê mais detalhes e elementos para que eu possa responder sua pergunta, pois não me ficou muito clara.

Alex disse...

Caro amigo,

sua dissertação - muito boa por sinal - é tema de estudo de um grupo chamado Sociedade das Ciências Antigas (SCA), exatamente com esse título. E a maneira como vc dissertou me levou a crer que se trata de uma explanação à maneira de resposta a um questionamento... Assim, imaginei que vc seria membro e adepto dos estudos da SCA.

Abraço Fraterno

Alexandre Oliveira

Roy Luria disse...

Sim, participo.

Alex disse...

Eu também, por isso identifiquei rápido sua dissertação.

Boa sorte em sua caminhada!

Abraço fraterno

Anônimo disse...

Também estou escrevendo sobre isso para a SCA. Logo postarei o texto no meu blog, espero a visita de vocês.

http://philosophia-aton.blogspot.com

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